A ansiedade é uma reação natural do nosso corpo e que está presente em situações de ameaça, compondo o espectro de comportamentos de sobrevivência conhecidos como “luta ou fuga”. Desta forma, ficar ansioso em determinadas situações é normal e reflexo de uma resposta adaptativa do nosso organismo, por exemplo quando estamos didante de um leão. Quem não ficaria ansioso nessa hora, certo?
No entanto, a ansiedade também pode estar presente em outras situações as quais, teoricamente, não apresentam motivos reais de perigo, mas que, por alguma razão, nosso organismo reage de maneira ansiosa e passa a emitir respostas do tipo “luta ou fuga”. Neste caso, tem-se que a presença da ansiedade não é adaptativa e pode constituir um transtorno psiquiátrico.
Para ilustrar a resposta disfuncional da ansiedade, imagine a seguinte situação:
“Uma pessoa está no trabalho e sabe que dentro de cinco minutos sairá para o almoço. Quando olha para o relógio, lembra que se esqueceu de trazer a sua marmita e, por isso, precisará almoçar no restaurante do prédio, junto com seus colegas. Neste instante começa a ficar muito ansioso e a pensar repetidamente: ‘Não posso almoçar no restaurante de jeito nenhum. Estão todos lá e todos irão me olhar. Não posso suportar a ideia de estarem prestando atenção em mim. Eu sei que vou ficar muito nervoso e acabar derrubando tudo. Vou passar a maior vergonha!’“.
Agora, pense comigo: será que restaurantes em geral costumam causar ansiedade nas pessoas?
A resposta esperada é “não, não costumam”. E não costumam porque, geralmente, o restaurante em si é um ambiente inofensivo. É esperado que ambientes e situações inofensivos não nos causem ansiedade, mas então, por que ficamos ansiosos diante de situações ou ambientes que, teoricamente, não nos oferecem perigo?
A reação de ansiedade que está desadaptada ao contexto apresenta como características centrais o medo e a preocupação exagerados e está ligada à forma como interpretamos as situações. Neste sentido, ao notar o perigo iminente real ou imáginário, o indivíduo passa a antecipar a ameaça como forma de se proteger. É neste momento que comportamentos de fuga e evitação começam a compor o repertório de enfrentamento do indivíduo, pois, a princípio, são estratégias que o mantêm na sua zona de segurança.
Tem-se então que, no contexto da ansiedade disfuncional, o indivíduo apresenta a tendência de cometer uma série de erros de pensamentos (distorções cognitivas) ao permanecer, seletivamente, concentrado em situações de ameaça e perigo na tentativa de antecipa-las e salvar-se. Dentre as distorções cognitivas mais comuns estão os pensamentos do tipo catastróficos, que acabam por tornar a situação muito pior e trágica do que realmente é.
Por ser uma reação psicofisiológica, a sensação de ansiedade também pode ser acompanhada por sintomas físicos como: taquicardia, sudorese excessiva, tontura, sensação de formigamento, sensação de sufocamento e tremores. Essas reações podem ser tão intensas que, muitas vezes, o indivíduo pode tornar-se intolerante à própria ansiedade e ficar ansioso a respeito da possibilidade de estar ansioso.
Então, como saber que a ansiedade que sinto está disfuncional? No geral, quadros de ansiedade intensa podem trazer grande prejuízo à qualidade de vida do indivíduo e forte desconforto físico e emocional. Sempre que você tiver dúvidas quanto à sua saúde emocional, procure por ajuda profissional. Dentre os tratamentos para a ansiedade, a psicoterapia auxilia o indivíduo a compreender os “gatilhos” que desencadeiam suas crises ansiosas, ajudando-o a compreender os significados a eles atribuídos e a desenvolver estratégias de enfrentamento.
É possível, sim, ter qualidade de vida e conviver com a ansiedade de forma saudável.